No dia em que completo 17 penso que quem está de parabéns não sou ( só ) eu.
À minha mãe e ao meu pai ( que me vai desculpar por nunca encontrar poemas que falem do pai )
[ Esta é uma das prendas que trago de Barcelona ] Parabéns a nós !!!
Intruções :
Clicar no play, apreciar a melodia até ao minuto 2:10, começar a ler o poema abaixo , com o diseur ...
Enjoy !
No sorriso louco das mães batem as leves
gotas de chuva. Nas amadas
caras loucas batem e batem
os dedos amarelos das candeias.
Que balouçam. Que são puras.
Gotas e candeias puras. E as mães
aproximam-se soprando os dedos frios.
Seu corpo move-se
pelo meio dos ossos filiais, pelos tendões
e orgãos mergulhados,
e as calmas mães intrínsecas sentam-se
nas cabeças filiais.
Sentam-se, e estão ali num silêncio demorado e apressado,
vendo tudo,
e queimando as imagens, alimentando as imagens,
enquanto o amor é cada vez mais forte.
E bate-lhes nas caras, o amor leve.
O amor feroz.
E as mães são cada vez mais belas.
Pensam os filhos que elas levitam.
Flores violentas batem nas suas pálpebras.
Elas respiram ao alto e em baixo.
São silenciosas.
E a sua cara está no meio das gotas particulares
da chuva,
em volta das candeias. No contínuo
escorrer dos filhos.
As mães são as mais altas coisas
que os filhos criam, porque se colocam
na combustão dos filhos. Porque
os filhos são como invasores dentes-de-leão
no terreno das mães.
E as mães são poços de petróleo nas palavras dos filhos,
e atiram-se, através deles, como jactos
para fora da terra.
E os filhos mergulham em escafandros no interior
de muitas águas,
e trazem as mães como polvos embrulhados nas mãos
e na agudez de toda a sua vida.
E o filho senta-se com a sua mãe à cabeceira da mesa,
e através dele a mãe mexe aqui e ali,
nas chávenas e nos garfos.
E através da mãe o filho pensa
que nenhuma morte é possível e as águas
estão ligadas entre si
por meio da mão dele que toca a cara louca
da mãe que toca a mão pressentida do filho.
E por dentro do amor, até somente ser possível amar tudo,
e ser possível tudo ser reencontrado
por dentro do amor.
Herberto Helder
21.7.10
8.7.10
Olhaste para mim por uma brecha,
alvejaste-me de olhos esgazeados
enquanto sugavas o último gole de ar,
o teu último suspiro de Vida,
para dentro dos pulmões,
velhos e pútridos.
Foi a última vez que oxigenaste o teu cérebro
e eu vi-te
pela brecha da janela da carrinha amarela
As sirenes ressoam agora, ao longe.
alvejaste-me de olhos esgazeados
enquanto sugavas o último gole de ar,
o teu último suspiro de Vida,
para dentro dos pulmões,
velhos e pútridos.
Foi a última vez que oxigenaste o teu cérebro
e eu vi-te
pela brecha da janela da carrinha amarela
As sirenes ressoam agora, ao longe.
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