Imagino o sabor a café, provavelmente amargo. Cheiro o tabaco que se queima na ponta dos dedos.
Vejo-o sentado, o pé direito sobre o joelho esquerdo. Sobre as pernas um caderno, na cabeça um chapéu.
Uma figura - nada mais do que uma presença ténue. Uma sombra esguia e escura que observa o rodopio do mundo, mergulhando, divagando dentro de si próprio.
Atribuo-lhe a infantilidade de uma criança presa no corpo, na vida de um adulto vulnerável à passagem dos dias. Na mesma alma vejo opostos - sentimentos que em nenhuma outra se cruzariam.
Sinto-lhe a paixão assombrada por um vazio. Sinto-lhe a alegria e, ao mesmo tempo, a decadência.
Sinto-lhe a ânsia de um geniozinho precoce.
Na mesma sombra vejo vultos, vultos de outras almas. É isto que despoleta toda a entropia do pensamento.
E sobreviver a isto só sendo poeta - só sendo capaz de gerar sanidade a partir da própria loucura.
'só sendo capaz de gerar sanidade a partir da própria loucura'
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