21.2.11

Hoje, abalroou-me várias vezes a palavra dissertação:

Às vezes, quase todas as vezes - quase sempre - basta Presença.
A única coisa indispensável é Estarmos e Sermos, na maior parte dos casos.
Hoje, valorizo essencialmente o que calei, o que não fiz. Valorizo essencialmente o facto de Ter Sido simplesmente - para que todos os momentos em que faço mais do que Ser tenham valor.
Para que realmente Exista quando decido dar mais do que o meu Silêncio. Para que estar calada dê ênfase à Intervenção.
Para que se valorize a Estática, e se valorize ainda mais qualquer Dinâmica.

E em todo o caso, não murmures. Se oras, fá-lo bem alto.
Bem mereço o cuidado de me falares do teu coração.

8.2.11

Caminante,



Todo pasa y todo queda,
pero lo nuestro es pasar,
pasar haciendo caminos,
caminos sobre el mar.

Nunca persequí la gloria,
ni dejar en la memoria
de los hombres mi canción;
yo amo los mundos sutiles, ingrávidos y gentiles,
como pompas de jabón.
Me gusta verlos pintarse
de sol y grana, volar
bajo el cielo azul, temblar
súbitamente y quebrarse...

Nunca perseguí la gloria.

Caminante, son tus huellas
el camino y nada más;
caminante, no hay camino,
se hace camino al andar.

Al andar se hace camino
y al volver la vista atrás
se ve la senda que nunca
se ha de volver a pisar.

Caminante no hay camino
sino estelas en la mar...

Hace algún tiempo en ese lugar
donde hoy los bosques se visten de espinos
se oyó la voz de un poeta gritar
"Caminante no hay camino,
se hace camino al andar..."

Golpe a golpe, verso a verso...

Murió el poeta lejos del hogar.
Le cubre el polvo de un país vecino.
Al alejarse le vieron llorar.
"Caminante no hay camino,
se hace camino al andar..."

Golpe a golpe, verso a verso...

Cuando el jilguero no puede cantar.
Cuando el poeta es un peregrino,
cuando de nada nos sirve rezar.
"Caminante no hay camino,
se hace camino al andar..."

Golpe a golpe, verso a verso.
Antonio Machado,  Proverbios y cantares XXIX

4.2.11

Gládio

Deu-me Deus o seu gládio, porque eu faça
A sua sancta guerra.
Sagrou-me seu em honra e em desgraça,
Às horas em que um frio vento passa
Por sobre a fria terra.

Poz-me as mãos sobre os hombros e doirou-me
A fronte com o olhar;
E esta febre de Além, que me consome,
E este querer-grandeza são Seu nome
Dentro em mim a vibrar.

E eu vou, e a luz do gládio erguido dá
Em minha face calma.
Cheio de Deus, não temo o que virá,
Pois venha o que vier, nunca será

Maior do que a minha alma.

D. Fernando, Infante de Portugal em Mensagem de Fernando Pessoa