28.11.09

Espero pela decomposição

Lamento se tenho estado ausente.
Na verdade, ando ausente de tudo. Na verdade sinto-me ausente.

Eu não ando em casa, não estou no meu quarto, eu não ando em mim.
Estou muito longe. Estou no quarto cheio de vida, agora vazio. O quarto cujas paredes colapsaram. Onde foi dito que já não valia a pena, já não havia remédio, já não havia esperança.
É estranho, mas acredito nisto como o Pessoa: Primeiro estranha-se, depois entranha-se.
Eu aguardo, desesperadamente, pela parte em que se entranha, querendo acreditar que quando se entranha se compreende e se fica em paz. Porque esta parte, a parte em que se estranha, é a descrença neste fim. É guardar esperança na esperança de que haja esperança, realmente. E isto pode ser destrutivo.
Eu espero pela passagem deste tempo, como se esperasse pelos tecidos necrosos e pútridos num cadáver para acreditar na sua morte.
Dou por mim neste quarto, ao teu lado como sempre, mas desta vez espero pela decomposição.
Isto tudo de rompante, de surpresa, tudo rasgando a ilusão a que me tinha agarrado, numa inconsciência consciente de que era uma bomba relógio e de que era uma questão de tempo até que explodisse.
Agora que explodiu, mais uma vez é uma questão de tempo - é sempre uma questão de tempo - é uma questão de dar tempo ao tempo.



E no fim, a espera do tempo obriga-me a pensar que como escreveu Carlos Tê e interpretaram os Clã:
O meu lado esquerdo é mais forte do que o outro.


Não consigo deixar de pensar... Que vida tão estranha - como Rodrigo Leão.

Sem comentários:

Enviar um comentário