4.10.10

Alcino

Intriga-me esta gente acabada de conhecer com quem se partilham histórias , nos jardins da Cordoaria - ou noutro sítio qualquer.
Gente para a qual o ócio se vai tornando lentamente enjoativo, talvez.
Gente com quem se está na boa, mas que me espanta por não estar farta de estar na boa.
Vaguear é prazer quando não o fazemos eternamente. Improvisar é fascinante quando o improviso não é permanente.
Dou valor àqueles bancos , àquelas ruas, àquelas eesculturas de Muñoz, àqueles cafés, àquelas praças, àqueles desconhecidos que se conhecem - porque não são o meu todo o dia, todos os dias.

Ouvia hoje o Alcino, um desses desconhecidos que se conhecem... Estava com o desconhecido Tito e o desconhecido Mário. Mas o desconhecido Tito e o desconhecido Mário tinham qualquer coisa na cabeça.
O Alcino não - e não digo isto por mal. Eu explico :
O Alcino estava com uma grande moca, o Alcino vive com uma grande moca, aliás - o Alcino é uma moquinha só.
O Alcino não faz nada - vai vivendo pelas ruas em que eu vou passando, vai cantando e tocando mal , ganhando uns trocos , vai alimentando uma vida oca, com uma alegria oca.
É daquelas pessoas com quem se passa uma boa tarde, ou uma boa noite. O Alcino é uma pessoa boa, provavelmente. Mas é uma pessoa oca, que vive com a moca.
Algo me diz que não suportaria viver como o Alcino ...

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