28.11.10

Slides (Retratos da cidade branca)


Escrito e Dito por Viriato Ventura

Onde estão os meus amigos?

Remotas memórias
Saltitam, Pululam.
Cheiros, odores,miragens
O café, o sorriso
"Olá, como está?"
E outras encenações
A novidade:
A vizinha do 3º fugiu, amanhã vem no jornal

Ai..a imperial da Munique
Os destemidos tremoços
Moços, maçons
Canalha, navalha
Pensa coração
Amigos onde estais?

A sueca com minis à mistura
O relato da bola
A malha, copo de 3
A feira do relógio
O relógio da feira
Sandes de couratos, vinhos de Torres
Jogging de Marvila

Domingo
Especialmente domingo
Barbeados, dentes lavados
E martinis no plástico labrego
Alumínio, moderno, kitch, mau gosto
12 cordas, mãozinhas
Salteadores da razão perdida
Perdidos, enjaulados
Correio da manhã
O cú da vizinha do 9ºB
Regalo para a vista
Suplemento a cores com salários em atraso

E a Lisnave petroquímica
Cancros do meu Tejo
Apodrecendo lentamente o azul das águas
E eu impotente, cinemascope, 35 milímetros de mim
A raiva afogada entre cubaslibres e pernas de mulheres
Que não são putas nem são falsas nem são nada
São pernas de mulheres e cubaslibres simplesmente

Paga-se a saudade com cartão de crédito

Táxi, leva-me para onde está o meu amor
Táxi, leva-me para lá de mim
Táxi, atropela-me os sentidos e a alma para não deixar vestígios.

Música por Samuel Mira (Sam the Kid), em Practica(mente)

25.11.10

Pois é...



A miúda afinal é esperta. É atenta.
A miúda afinal tem bom gosto, é interessante e sabe do que fala.
Afinal é mesmo assim, apenas estranha...
Afinal gosto mesmo dela.

24.11.10

F de Falso

O dia de hoje poderá ter custado até meio bilião de euros.
A mim, a ti, à tua família, aos teus amigos, conhecidos, a todos.

Há que reivindincar, mas reivindicar não é isto.

23.11.10

Lembrou-me hoje Ana Luisa Amaral:

Eu não sou um nem outro:
Sou qualquer coisa de intermédio

M. de Sá-Carneiro

Justamente quando ia recomeçar a ler a cópia de "A confissão de Lúcio"  (que comprei faz muito tempo na Lello) me apercebi que não sei onde a pousei. Não me lembro da última vez que a perdi.

E simplesmente não se pode ler um livro desta forma negligente: sem lhe darmos o devido carinho, a devida atenção, uma certa sensação de necessidade e dependência, sem nos deixarmos apaixonar, envolver, sem sugar as palavras como se saciássemos uma sede, como se nos rendêssemos a um vício. Não se pode ler recomeçando as primeiras páginas vezes e vezes sem conta.
Desculpe, Mário Sá (Carneiro), isto não está bem e não lhe faz justiça...

22.11.10

Faz tempo e continuas linda.
Estás ainda mais bonita, arriscaria dizer. Dás-me uma certa vontade de te comer o cérebro com esparguete, de te beber o espectro, de fumar a tua carne. Meu deus, como és linda. Lembrei agora que quando era mais novo havia uma coisa muito bonita que era a sedução.

21.11.10

Yeah Yeah Yeahs

Hoje ouvi de novo o meu ... 7º ano, talvez :

20.11.10




Nem penses que te recordarei velho, viciado, morto. Nem penses.

18.11.10

Tabacaria

(...)
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.

Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei-de pensar?
(...)
Àlvaro de Campos

17.11.10

" Eu não pertenço a nenhuma das
gerações revolucionárias. Eu pertenço a
uma geração construtiva.

(...)

Para criar a pátria portuguesa do século XX não são necessárias fórmulas nem
teorias; existe apenas uma imposição urgente: Se sois homens sede Homens, se sois
mulheres sede Mulheres da vossa época.
Vós, ó portugueses da minha geração, que, como eu, não tendes culpa nenhuma de
serdes portugueses.
Insultai o perigo.
Atirai-vos prà glória da aventura.
Desejai o record.
Dispensai as pacíficas e coxas recompensas da longevidade.
Divinizai o Orgulho.
Rezai a Luxúria.
Fazei predominar os sentimentos fortes sobre os agradáveis.
Tende a arrogância dos sãos e dos completos.
Fazei a apologia da Força e da Inteligência.
Fazei despertar o cérebro espontaneamente genial da Raça Latina.
Tentai vós mesmos o Homem Definitivo.
Abandonai os políticos de todas as opiniões: o patriotismo condicional degenera e
suja; o patriotismo desinteressado glorifica e lava.
Fazei a apoteose dos Vencedores, seja qual for o sentido, basta que sejam
Vencedores. Ajudai a morrer os vencidos.
Gritai nas razões das vossas existências que tendes direito a uma pátria civilizada.
Aproveitai sobretudo este momento único em que a guerra da Europa vos convida
a entrardes prà Civilização.
O povo completo será aquele que tiver reunido no seu máximo todas as qualidades
e todos os defeitos. Coragem, Portugueses, só vos faltam as qualidades."

José de Alamada Negreiros, Ultimatum futurista às gerações portuguesas do séc.XX

16.11.10

É triste ver tantos ainda a laborar no erro...

Não quero, Cloe, teu amor, que oprime
Porque me exige o amor. Quero ser livre.

A sperança é um dever do sentimento.
Ricardo Reis, in Odes

11.11.10

Sabes bem que continuarás assim , até ao fim dos dias - um cobarde vulnerável ao medo do falhanço, tal como Ricardo Reis. Serás o eterno perseguidor da mediocridade, um conformado - triste, quase repugnante. Um fugitivo de ti próprio, tentarás a todo custo apagar as pegadas de um caminho que nunca te permitiste, que nunca percorreste mas que desejaste mais do qualquer outro, de uma vida que nunca viveste, de uma existência focada na efémera sobreviência. Camuflarás, como sempre, a falta de coragem de viver com Epicuro, Zenão e a busca de uma falsa ataraxia. Mas nunca estarás verdadeiramente tranquilo. Nunca viverás absorto de todas as crenças que não te permites ter, quanto mais ser capaz de um niilismo total.
Serás, para sempre, um condenado das horas vagas que te impões.

10.11.10

It could happen to you...

Reconheço: O blogue anda adormecido, como um pé com formigueiro.
A verdade é que já não o actualizo desde o dia 24. Andei por aí a visitar alguns, e muitos se encontram na mesma situação - mas não, não vou utilizar outros maus exemplos para justificar o meu, até porque não fica nada justificado - é apenas uma manobra de diversão para desviar as atenções.

Na realidade, venho reconhecer a imaturidade de não ser capaz de manter este sítio e dizer umas coisas. Mais do que reconhecê-lo venho fazer alguma coisa em relação a isso, pela simples razão de que este lugar tem um efeito terapêutico - nunca encarei o Mentalfetaminas como uma actividade obrigatória mas sim um pequeno projecto pessoal, apaixonado. Fundamentalmente, incomoda-me a ideia deste desleixo em relação a algo que sempre adorei que é escrever, e as razões que fomentam o mesmo ( a minha mãe chama-lhe sostrice )

Entretanto, o mundo não pára. Gastam-se balúrdios em blindados de guerra para a cimeira da Nato que nem sequer chegarão a tempo da mesma, o FCP sente-se generoso e oferece simpaticamente 5 ao Benfica, gera-se o primeiro mini Big-Bang no CERN, cria-se um fígado num laboratório português, uma jovem promete aos escassos leitores do seu blogue e, principalmente, a si mesma uma narração mais regular dos pequenos fenómenos do mundo.