9.12.11

Soneto de Fidelidade

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.


Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento


E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama


Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.


Vinícius de Moraes

15.11.11

Não queria ser estátua
não faço sequer eco
seguro-me à circunstância.
Não serei mito, não serei mártir,
não serei estátua,
não verás em mim
monumentos de liberdade.

Escuto púlpitos, percorro distâncias,
beijo-te as mãos
porque te amo muito,
Hoje.

Serei o morrer amanhã
e não serei sequer de pedra
escorro apenas,
apesar de todo o Epicurismo.
Amanhã sou niilismo e,
no entanto, ataraxia.
(amanhã) apogeu, morte
Libertação.

12.11.11

Despedi-me do esquecimento
e já tu adivinhavas a carne
que eu anunciava.
Parto, na ânsia de reinventar
o trago das raízes telúricas
Procuro somente reconhecer
por onde se foi morrendo.
Dizes que não és completamente ateu
pergunto-te então,
que coisa é essa que fazes com as palavras.
Eu ainda peço solidão,
e a minha loucura
Ainda procuro devotar a vida
à eterna fonte dos povos.

14.4.11

Obrigado, Inês :

É linda...
És linda .
Sempre,
mas agora , aqui, publicamente.

22.3.11

Quando foi a última vez que foste Homem?

Para mim, o Caminho mais simples vai de O Cebreiro a Obradoiro. De todas as vezes, essa é a parte mais fácil. O desafio reside no Caminho de Obradoiro até O Cebreiro. Aí residem as provações, as angústias, as decisões, os medos, as frustrações. É neste Caminho que me provo, que me busco e me encontro. É neste Caminho que procuro ser consequente, que amo, choro, abraço, que penso : o que é que me faz falta? o que é que lhes faz falta ? É neste Caminho que me interrogo - quando foi a última vez que fui Homem, e porque é que não o sou mais vezes.

21.3.11

A minha explicação é esta :

I went to the woods because I wished to live deliberately, to front only the essential facts of life, and see if I could not learn what it had to teach, and not, when I came to die, discover that I had not lived. I did not wish to live what was not life, living is so dear; nor did I wish to practise resignation, unless it was quite necessary. I wanted to live deep and suck out all the marrow of life, to live so sturdily and Spartan - like as to put to rout all that was not life, to cut a broad swath and shave close, to drive life into a corner, and reduce it to its lowest terms, and, if it proved to be mean, why then to get the whole and genuine meanness of it, and publish its meanness to the world; or if it were sublime, to know it by experience, and be able to give a true account of it in my next excursion. For most men, it appears to me, are in a strange uncertainty about it, whether it is of the devil or of God, and have somewhat hastily concluded that it is the chief end of man here to "glorify God and enjoy him forever."

in Walden, H.D. Thoreau

21.2.11

Hoje, abalroou-me várias vezes a palavra dissertação:

Às vezes, quase todas as vezes - quase sempre - basta Presença.
A única coisa indispensável é Estarmos e Sermos, na maior parte dos casos.
Hoje, valorizo essencialmente o que calei, o que não fiz. Valorizo essencialmente o facto de Ter Sido simplesmente - para que todos os momentos em que faço mais do que Ser tenham valor.
Para que realmente Exista quando decido dar mais do que o meu Silêncio. Para que estar calada dê ênfase à Intervenção.
Para que se valorize a Estática, e se valorize ainda mais qualquer Dinâmica.

E em todo o caso, não murmures. Se oras, fá-lo bem alto.
Bem mereço o cuidado de me falares do teu coração.

8.2.11

Caminante,



Todo pasa y todo queda,
pero lo nuestro es pasar,
pasar haciendo caminos,
caminos sobre el mar.

Nunca persequí la gloria,
ni dejar en la memoria
de los hombres mi canción;
yo amo los mundos sutiles, ingrávidos y gentiles,
como pompas de jabón.
Me gusta verlos pintarse
de sol y grana, volar
bajo el cielo azul, temblar
súbitamente y quebrarse...

Nunca perseguí la gloria.

Caminante, son tus huellas
el camino y nada más;
caminante, no hay camino,
se hace camino al andar.

Al andar se hace camino
y al volver la vista atrás
se ve la senda que nunca
se ha de volver a pisar.

Caminante no hay camino
sino estelas en la mar...

Hace algún tiempo en ese lugar
donde hoy los bosques se visten de espinos
se oyó la voz de un poeta gritar
"Caminante no hay camino,
se hace camino al andar..."

Golpe a golpe, verso a verso...

Murió el poeta lejos del hogar.
Le cubre el polvo de un país vecino.
Al alejarse le vieron llorar.
"Caminante no hay camino,
se hace camino al andar..."

Golpe a golpe, verso a verso...

Cuando el jilguero no puede cantar.
Cuando el poeta es un peregrino,
cuando de nada nos sirve rezar.
"Caminante no hay camino,
se hace camino al andar..."

Golpe a golpe, verso a verso.
Antonio Machado,  Proverbios y cantares XXIX

4.2.11

Gládio

Deu-me Deus o seu gládio, porque eu faça
A sua sancta guerra.
Sagrou-me seu em honra e em desgraça,
Às horas em que um frio vento passa
Por sobre a fria terra.

Poz-me as mãos sobre os hombros e doirou-me
A fronte com o olhar;
E esta febre de Além, que me consome,
E este querer-grandeza são Seu nome
Dentro em mim a vibrar.

E eu vou, e a luz do gládio erguido dá
Em minha face calma.
Cheio de Deus, não temo o que virá,
Pois venha o que vier, nunca será

Maior do que a minha alma.

D. Fernando, Infante de Portugal em Mensagem de Fernando Pessoa

29.1.11

Não me encontro. É difícil marcar presença quando não me encontro. Não me conheço, no sentido em que me observo numa ânsia de alcançar tudo menos aquilo que vou definindo como prioridades.
Questiono permanentemente o Tempo que passa - porque passa e se poderia passar mais rápido... mais devagar. Estagnar. Falo com espíritos e tenho a nítida noção de que isto não é normal. Vou falando comigo, discutindo essencialmente. E não me encontro.


If I Rise...

16.1.11

Pára!

Paro com o quê? Não entendo a que te referes...

Pára com isso! Chega de tentares perder-te nas minhas próprias decisões. Acaba com todos esses subterfúgios que inventas para te fingires interessado.
Encontra outra forma de lutar contigo próprio e com aqueles que vês como entraves.
Não me uses como ferramenta de guerra - Sempre odiei cenários bélicos, além disso não sou um brinquedo.
Deixa-me em paz, até porque honestamente estou-me nas tintas - Para ti, para os respectivos entraves e para o modo como termina esta paródia.
Foste tu que me abordaste enquanto caminhava tranquilamente, tomando opções, calculando a minha rota. Tentaste recrutar-me adivinhando que antes já os teus oponentes teriam tentado. Mas não te devo nada, muito menos explicações. Estás com azar, não tomo partidos a não ser o meu.
E acabo a conversa com palavras de Campos:

Que mal fiz eu aos deuses todos?

(...)

Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?

10.1.11

Só quem ainda não entendeu Clã é que não se rendeu à magnitude dos seus trabalhos.
Só quem ainda não sentiu que, quando ouvimos Clã, o céu pesado cabe em lágrimas gordas.

9.1.11

No fim, gostava que a minha vida fosse um manto de retalhos.









No qual nos deitamos juntos, todas as noites, e celebramos o milagre da vida.

5.1.11

Os meus pulmões pedem-me um pouco de sossego.
Pedem-mo as mãos, a minha cabeça.
Tenho vontade de encarar os dias num coma profundo, até que entendo o meu lugar aqui na Terra. O meu lugar é aqui - comigo própria, sozinha. Contigo, com eles, criar um connosco. O meu lugar é este, apesar de ser mais fácil fazer de mim uma forma inatingível. Um espectro deformado pela distância que nos segura, que nos mantém a salvo.
Por momentos, olvido. Mas, por momentos, lembro a minha Casa e o meu Caminho, e regresso.
De resto, é tudo um eterno desassossego.

2.1.11

Desde o primeiro dia que digo: não há coisa que mude. A única coisa que muda somos nós, e por isso é tudo. Tudo muda. E isto não é uma incongruência pela simples razão de que há quem a compreenda profundamente.
Muda aquilo que nós quisermos mas é necessário que nos mobilizemos.
Todos os dias são novos porque só acontecem uma vez, cabe-nos a nós fazer deles alguma coisa.

Ou não.

31.12.10

Acabei de ler A Confissão de Lúcio.
Estou absolutamente abismada, incapaz de concordar integralmente com as interpretações que li a posteriori, meditando para encontrar uma minha.
Entretanto, adianto a minha leitura da Odisseia de Homero, que será o livro com que entrarei na nova década.



Foram boas escolhas, boas escolhas acima de tudo e embora seja o que for.
E posso dizê-lo com uma satisfação que transcende o facto de não acreditar no arrependimento.
Sans toi, les émotions d'aujourd hui ne seraient que la peau morte des émotions d'autrefois.

25.12.10

Acabei há dias a série de novelas de Tolstoi que andava a ler. Adorei-as a todas.
Passei a acender uma paixão que já imaginava sentir pelo Mário de Sá-Carneiro - Encontramo-nos oficial e definitivamente em A Confissão de Lúcio, que tenho devorado.

São tempos de boas leituras, de bons pensamentos. Sinto uma angústia estranha que se deve precisamente a uma certa falta de angústia. Tenho andado tranquilamente à mercê da odisseia dos dias - tenho vivido os passos sem pensar no trilho e, entretanto, tem corrido bem.

23.12.10

Hoje vi uma ave de rapina voando estranhamente no meandros desta confusão de anthropos.

Tenho meditado incessantemente à cerca do método que Tolstoi nos apresenta, através do padre Sérgio, para desviar a nossa cabeça da perdição, da paixão, do pecado - aquele método segundo o qual, mediante uma situação de desespero, de descontrolo, cortamos um dedo de forma a que todo o nosso pensamento esteja absolutamente focado na dor. Ando fascinada com tudo o que tenho lido.







Este ano passo o Natal com a minha família em Vale de Penela

20.12.10

O meu computador regressou a casa. Já sentia saudades - que ridículo!

Entretanto tenho dedicado estes dias ao verbo dormir.. Ando num estado pouco menos que vegetativo.
No entanto, está a chegar a festa da minha Inês, e eu mal posso esperar. Aproveito e deixo aqui isto:

15.12.10

O Diabo

Se eu deixar que me profanes a mente (já de si pouco sã),  posso alegar que és o Diabo ?
Poderei dizer uma oração baixinho e alvejar-te o peito, tal como fez Evgueni Irtenév, mas com palavras ?
Posso, finalmente, procurar absolvição na tua morte ?

Será que as respostas virão quando eu conhecer a história do Padre Sérgio até ao fim ?


________,,_______________

Um pequeno à parte : Minha gente, a rádio CLF está cada vez mais perto. Visitem radioclf.blogspot.com

12.12.10

Na sexta feira à noite actuei na Fnac do Gaia shopping com os combos da Escola de Jazz do Porto - é muito provavelmente das melhores sensações do mundo.
O dia de ontem foi o caos.. Não quero ver putos à minha frente nos próximos tempos, mas a verdade é que adorei estar com eles.

Percorro os dias numa ânsia de chegar ao fim. ao fim da hora, do dia. ao fim do capítulo. ao fim da Morte de Ivan Ilich. E condeno-me, tal como Ivan se condena.

7.12.10

Há tolos que nunca saberão o sabor do desleixo, o prazer de uma calçada fora de horas.
Nunca descobrirão o valor do que não é usual e o quanto se aprende ao não fazer [ aparentemente ] nada.
Há quem viva ainda sem o bálsamo de uma fuga.

Cada vez mais me convenço que é o equilíbrio que faz a diferença.

6.12.10

Divago entre genética, estudos de Mendel, cruzamentos parentais, ligações factoriais e etceteras que poderiam ser interessantíssimos noutro dia qualquer mas não hoje. Tenho aqui os Blues, o John Lee Hooker a puxar-me do meu lado esquerdo e não sei o que fazer - porque não me apetece muito mandá-lo embora.

Fito qualquer figura dinâmica em contraluz, como se fosse um escape. Fecho os olhos e deixo cair a cabeça. Está pesada, preciso Caminhar. Anda comigo, vamos os dois... O que fazemos aqui afinal?
A estrada é infinita e eu sei que temos tempo, mas porque é que esperamos?

4.12.10

Foi num dia destes que te conheci. Enquanto me mostravas o sabor das gostas de chuva.
Foi num destes dias em que se medita sobre a morte como numa novela de literatura russa.
Esqueci completamente que o mundo desabava tempestuosamente sobre a minha cabeça e que os abutres sobrevoavam em rota circular, adivinhando já a carne pútrida que eu anunciava.
Foi  num dia assim, triste, cinzento, que colheste folhas secas como recordações antigas cheias de significado.
Foi assim que soube quem tu eras, pela luz da tua figura num dia de fracasso.

28.11.10

Slides (Retratos da cidade branca)


Escrito e Dito por Viriato Ventura

Onde estão os meus amigos?

Remotas memórias
Saltitam, Pululam.
Cheiros, odores,miragens
O café, o sorriso
"Olá, como está?"
E outras encenações
A novidade:
A vizinha do 3º fugiu, amanhã vem no jornal

Ai..a imperial da Munique
Os destemidos tremoços
Moços, maçons
Canalha, navalha
Pensa coração
Amigos onde estais?

A sueca com minis à mistura
O relato da bola
A malha, copo de 3
A feira do relógio
O relógio da feira
Sandes de couratos, vinhos de Torres
Jogging de Marvila

Domingo
Especialmente domingo
Barbeados, dentes lavados
E martinis no plástico labrego
Alumínio, moderno, kitch, mau gosto
12 cordas, mãozinhas
Salteadores da razão perdida
Perdidos, enjaulados
Correio da manhã
O cú da vizinha do 9ºB
Regalo para a vista
Suplemento a cores com salários em atraso

E a Lisnave petroquímica
Cancros do meu Tejo
Apodrecendo lentamente o azul das águas
E eu impotente, cinemascope, 35 milímetros de mim
A raiva afogada entre cubaslibres e pernas de mulheres
Que não são putas nem são falsas nem são nada
São pernas de mulheres e cubaslibres simplesmente

Paga-se a saudade com cartão de crédito

Táxi, leva-me para onde está o meu amor
Táxi, leva-me para lá de mim
Táxi, atropela-me os sentidos e a alma para não deixar vestígios.

Música por Samuel Mira (Sam the Kid), em Practica(mente)

25.11.10

Pois é...



A miúda afinal é esperta. É atenta.
A miúda afinal tem bom gosto, é interessante e sabe do que fala.
Afinal é mesmo assim, apenas estranha...
Afinal gosto mesmo dela.

24.11.10

F de Falso

O dia de hoje poderá ter custado até meio bilião de euros.
A mim, a ti, à tua família, aos teus amigos, conhecidos, a todos.

Há que reivindincar, mas reivindicar não é isto.

23.11.10

Lembrou-me hoje Ana Luisa Amaral:

Eu não sou um nem outro:
Sou qualquer coisa de intermédio

M. de Sá-Carneiro

Justamente quando ia recomeçar a ler a cópia de "A confissão de Lúcio"  (que comprei faz muito tempo na Lello) me apercebi que não sei onde a pousei. Não me lembro da última vez que a perdi.

E simplesmente não se pode ler um livro desta forma negligente: sem lhe darmos o devido carinho, a devida atenção, uma certa sensação de necessidade e dependência, sem nos deixarmos apaixonar, envolver, sem sugar as palavras como se saciássemos uma sede, como se nos rendêssemos a um vício. Não se pode ler recomeçando as primeiras páginas vezes e vezes sem conta.
Desculpe, Mário Sá (Carneiro), isto não está bem e não lhe faz justiça...